a arte do
ator yoshi oida
ator japonês e diretor teatral, nascido em 1933, trabalha desde 1968 com o diretor
inglês Peter Brook, tendo participado de montagens como Mahabharata e O homem
que confundiu sua mulher com o chapéu. Esteve no Brasil a convite da Cooperativa Paulista de Teatro e
do Sesc, para o lançamento do seu livro Um Ator Errante, uma conferencia e oficinas sobre sua
experiência como ator. O depoimento que se segue foi montado a partir de
entrevista concedido a Vintém, da qual participaram Alessandra
Fernandez. Kil Abreu, Lauro Mesquita e Sérgio de Carvalho, acrescida de trechos
da palestra realizada no Teatro do
Sesc-Pompéia no dia 1 7 de junho de 1999.
o que fazer?
Há 30 anos, quando eu fui trabalhar com o
Peter Brook, ele me disse: não use nenhuma técnica japonesa. Perguntei: O que eu faço então? Ele
respondeu: eu não sei.
através das histórias
O melhor é procurar um tema que não se
conheça bem. O objetivo da arte não é mandar mensagens, mas através das
histórias descobrir qual o mistério do humano e a beleza do humano. E muito
difícil se encontrar um bom projeto. Mas em qualquer projeto o objetivo é o
mesmo: contar o mistério e a beleza da humanidade.
o charme do teatro
O charme do teatro não é o de ser uma arte,
apresentada num palácio da cultura, o charme é o de conseguir, em qualquer
lugar, abrir o coração do público.
gato brasileiro
No teatro há varias formas de andar. No teatro de Tchecov você anda
quase que naturalmente. Às vezes eu quero usar um andar estilizado, mas
estilizar não é só um conceito você precisa de uma técnica corporal. Cada
pessoa tem um jeito de andar. Agora, um gato africano, um gato japonês e um
gato brasileiro andam do mesmo jeito. Isto significa que em nossa vida nós
estamos carregando nossos próprios hábitos. Nem quando andam naturalmente as
pessoas andam da mesma maneira. Então, quando você for andar no teatro livre-se
dos seus hábitos para poder pensar em algo mais e se abrir a sua emoção. A
verdade do corpo é muito importante para que você atinja a liberdade.
abandono
do estilo
Peter Brook diz que não busca um estilo, mas a
base de uma relação humana. Se a pessoa se atém a um estilo acontece um
combate, como se fosse de um cristão contra um islâmico, de um católico contra
um protestante. Tem que se abandonar o estilo para surgir alguma coisa que
permita uma relação.
ganhar sua comida
Na Inglaterra o ator folclórico não existe mais.
Enquanto que no Japão, na Grécia, na África ainda existe esse tipo de ator.
Quando atuei em Qui est lá fiz a cena da pantomima em Hamlet no estilo
folclórico japonês. Um teatro completamente livre e muito popular. Um estilo
tão sofisticado quanto o Kabuki. A base do teatro folclórico em qualquer lugar
do mundo é a mesma: como um ator pode divertir as pessoas e ganhar sua comida.
perda de tempo
Se você não consegue se concentrar na vida,
como quer se concentrar no palco? Diga, você só se concentra no palco por que
as pessoas estão olhando para você? Na vida isso seria uma perda de tempo.
neurologistas e psiquiatras
O ator deve aprender a imitar o gesto, a atitude
e o espírito. Quando observei os pacientes no hospital, também tentei ver como
andavam e reagiam diante das perguntas dos médicos. Observei que os
neurologistas são muito diferentes dos psiquiatras. Os psiquiatras são mais
doces e os neurologistas muito diretos. Eu não falo do interior, mas da atitude
desses médicos. Os psiquiatras falam muito baixinho, docemente, e os
neurologistas são muito claros, duros, precisos.
modos de
vida
Existem atores que acham que é melhor observar mas
se você não acha isso necessário, não é necessário. Para mim, quando eu passo
três meses observando problemas neurológicos isso é muito útil paira entender
como funciona a doença mental. Não tanto como ator, mas como ser humano. O meu
oficio de ator é interessante porque eu posso descobrir outras realidades. A
vida não é descobrir como ser um bom ator. Mas atuar é uma boa ocasião para se
aprender a viver. Atuar é estudar modos de vida.
Anuncío o lançamento do Livro o Ator Errado por Jorge Valmini
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