sábado, 19 de março de 2011

Poesia na Praça Dante Alighieri


Poesia na praça. Pra que? Estou em casa. É bom estar em casa. “Eu plantado no alto em mim. Contemplo a ilusão da casa. As imagens descem como folhas. Enquanto falo. Eu sei. O tempo é o meu lugar. O tempo é minha casa. A casa é onde quero estar.” Vitor Ramil. Em casa tenho figurinos de diversos personagens. Máscaras. Tintas e pincéis. Adereços, instrumentos e pensamentos. E para disciplina do corpo e da mente meditação em movimento. Para organizar o caos da vida estou escrevendo um livro: 20 anos de teatro. Estou colocando a memória na prateleira.
Primeiro capítulo: Eu e a cidade. Segundo capítulo: A cidade e os poetas. Óbvio, nasci e cresci aqui. Ela está em mim certa. Seta que conduz. E nascido aqui me considero nativo. Índio Ibiá e Kaágua. Além da consideração sou índio no sangue por avó paterna. E mesmo registrado com nome europeu digo: sou negro, sou mulher. Geminiano como a cidade é.
Uma vez uma amiga perguntou: de onde vem teu gosto pela arte? Numa cidade que só pensa em trabalho! Penso e vejo imagens da infância. Eu seis anos rabiscando no papel. O vizinho nos fundos da nossa casa era “gaiteiro”. Tínhamos música ao vivo nos finais de tarde. No outro lado da quadra o marceneiro fabricava brinquedos de madeira. Na quadra seguinte havia um escultor fazia desenhos talhando a madeira que eu jamais imaginara. A esquerda da minha casa (na infância) eu freqüentava “o lixo” de um desenhista publicitário. Trabalhos em caneta “nanquim” na época uma fábula. Respondendo a amiga. Acredito que fui condenado pelo ambiente. Na escola desde o primeiro ano comecei a fazer teatro e nunca mais parei.
Fazendo teatro ou não a poesia sempre esteve presente. E recitando poemas em saraus públicos ou na casa de amigos encontrei poetas. É tinha um poeta no meio do caminho. De fato vários. Diferentes tipos de escritores e poetas pelo caminho. Em noventa e um a Biblioteca Publica Municipal Demetrio Nideraurer chama atores e atrizes para recitar poesias. O grupo batizado de Calíope, em referência a musa, tinha a função de promover o Projeto Poetas Caxienses. Daí em diante minha relação com a Biblioteca e os poetas torna-se profunda e constante.
Ana Araldi, Cyro de Lavra Pinto, Dhynarte de Borba e Albuquerque, Eduardo Dall’alba, Marco Antonio de Menezes, Paulo Ribeiro, Ítalo João Balen, José Clemente Pozenato, Odegar Júnior Petry, Olmiro de Azevedo e Tânia Scuro Mendes são os autores dos poemas escolhidos nesse momento.
Convido o músico e ator Bob Valente para acompanhar as declamações. Ensaio. Erro acerto. Repito. Ensaio. Preparo-me e convido amigos. Divulgo. Chega o dia marcado. Chove. Mais um ensaio. Segundo dia chove. Ensaiamos. É sábado nublado e sem chuva. Chego. Estão chegando alguns amigos. Mauro e Bernardo. Marcelo chega também. Alegre a sorrir vejo a Vera. O coração se encanta. Carlos também. Alguns amigos há pouco, outros no coração há muito tempo. Começa a sessão. Outros (desconhecidos?) se aproximam para ver. Agora que estão próximos pergunto o nome. Entrego um origami. Fagner 20 anos. A mãe gosta do cantor. Vem uma menina. Outros olham de longe. Lourdes, mulher madura, caminha apressada. Para. Ouve a poesia. Pergunta: por quê? O inferno da Julio.
Minha resposta é uma pergunta: Conheces o patrono da praça? Ela – não. Conto: Dante Alighieri poeta italiano escreveu há sete séculos o mega poema: a Comédia Humana. Nele o poeta vai ao inferno, purgatório e paraíso sob as bênçãos de sua musa Beatriz. Seus conterrâneos os migrantes que construíram a cidade batizaram a praça com seu nome, e nela um busto em bronze e mármore. Séculos depois um poeta daqui escreve sobre Dante, o inferno e o céu da Av. Julio. E estamos aqui porque as pessoas precisam de poesia. As pessoas, não o mundo.

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