CAXIAS DO SUL COSMOPOLITA
Começa com o
exercício do desapego. Entendo que a minha existência e tão importante quanto à
de um cachorro. A diferença parece está na consciência. Tendo consciência dessa
condição vou escrever um livro sobre a minha vida. Afinal sou tão importante
quanto. O primeiro capítulo será: Eu e a cidade. E por ser o início da história
vou escrever no final. E começar pelo Segundo capítulo: A cidade e os poetas. A
idéia parece óbvia, nasci e cresci aqui. A cidade está em mim! Certa. Seta que
conduz. Ando pela Rua Sinimbu. Pela Julio de Castilhos. Ruas vazias! Quase. É
janeiro. Fevereiro. Comecei o texto no passado. Ano. São as estações. Passando. Calor em fevereiro. Passo
apressado. Lembro da escrita na camiseta de um jovem (universitário): “Não
existe história, o que existe é memória.” Memória de guri. Memória de gari. Atravesso
a rua do guia Lopes. Lembro da fala de um amigo: “A cidade são as pessoas”.
Placa turística indica: Igreja do Santo Sepulcro. Associação de idéias: lembro de um artigo do
Jayme Paviani afirmando: “para entender a cidade é necessário distanciamento”. Longes irei para te entender? Vou a Berlim.
Década de vinte. Ensemble Brecht. Vou e
volto. Viagens físicas e mentais. Porto Alegre é natural. Amsterdã cartão
postal. E volto. É fevereiro ando. Sinimbu arquibancadas para o espetáculo. Pessoas
trabalhando. E lembro: “É do interior.” “Cresceu e não desenvolveu.” “Pequena
São Paulo.”
A cidade está em mim. E os poetas? Estão nesse corpo de
concreto e ajudam a entender a cidade objeto. Caxias do sul. É também Caxias do
norte. Tem poeta daqui. E há poeta que se importe! Olmiro de Azevedo escreve diante
de uma foto antiga em 1905: “A princípio era a floresta apenas, e o sol e o
vento./ E a cidade surgindo, de leve, a medo, ao longo do traçado da via sinuosa,
que seria primeira rua um dia./ era terra moça que se dava inteira aos casais
que vinham de longe com a coragem o amor dos fortes.”
Força é virtude
necessária aqui. E José Clemente Pozenato versa:
“... No entanto
como vibra a vida em tuas ruas
e ostensivamente
viras as costas
aos mortos
porque só consideras herói
quem se agüenta vivo
e mais que vivo
forte.”
Teu nome, Pérola das colônias muda.
Não tua essência. Eduardo Dall’Alba escreve:
“Esta cidade não é.
Não é estação de trem.
Só daqui a cem. Por enquanto
o céu noturno estrelado lúgubre
ilumina pequenos tigres
e informa campo dos bugres.”
É fevereiro. Caminho.
Calor a chuva refresca. Sabor a uva desperta. Tem festa. Ruas cheias.
Quase.
“Sigo a Júlio do Odegar Júnior Petry
A vitrine reclama atenção
A fila do banco amanhece
O cinza do céu
A dança dos guarda-chuvas
Carros lotam cruzamentos
da Júlio”
Escuto teus desamores! “Tem síndrome do trabalho.” “Não
sabe divertir se.” “Faltam espaços de lazer.” “Não têm cultura.” Olho e vejo Senegaleses
jogando futebol na Praça Raimundo Magnabosco. Olho de baixo para cima. Dinarte Albuquerque. Um olhar sobre a cidade.
“olho-a
às vezes de cima
& ela às vezes cisma
q é maior
q todos nós”
E se não fossem os nós o que seria
de nós? Soma-se aos que escrevem os que atuam. Os que fazem a cidade. Anônimos
ou populares.
Esta cidade é universal. Culturas se
encontram. É lado A. É lado B. É Oriente: Índia, Japão, Tibete. Há tanta África
aqui que alguns tentam negar. Senegal, Haiti, Porto Príncipe, Angola, quanta
capoeira, é regional é passado, é presente, é futuro, é flamenco, Árabe é
Itália, Polônia, Rússia, Portugueses, Alemães e bem antes, talvez os mais
fortes: Ibiás, Kaáguas, Kaingángs.
Esta cidade é multinacional. São
empresas, pequenas, médias e grandes, são faculdades, profissionais
estrangeiros, professores multiplicadores, pesquisadores.
Esta cidade é internacional. Adota
e exporta artistas de todos os gêneros e classes sociais. Reflito pelo leque:
são orquestras, eruditas, e populares. Atores, cantores do nacional ao regional.
Todos os sabores. Bailarinos do clássico ao contemporâneo. Danças de salão, de
rua. Músicas “cover” e autorais.
Caxias do Sul é cosmopolita. É
multicultural tanto em dias de chuva como em dias de sol. É cômica e trágica no
mesmo dia. Por isso reconhecimento para alguns movimentos e entidades que
cultivaram e cultivam Na alegria da diversidade!
Aliança Francesa, www.afcaxias.com.br; Academia Caxiense de Letras www.academiacaxiensedeletras-rs.com, Cio
da Terra. Associação Caxiense de Teatro - ACAT, Grupo teatral Míseri Coloni www.misericoloni.com.br,
Núcleo de Artes Visuais www.navi.artecaxias.blogspot.com.br,
Grupo Raízes.
2 comentários:
Gostei muito do texto.
Muito bom mermão. Belo filme.
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