segunda-feira, 22 de novembro de 2010

GENTE EM CENA




Gente em cena

Este texto foi escrito e publicado na revista com o nome de “Projeto GentEncena, grupos comunitários de teatro, em dezembro de 2004 quando completava oito anos de existência.
Como é fazer teatro em Caxias do Sul? Cidade ocidental, capitalista, grego-cristã. Que pessoas fazem teatro e de que maneira se organizam? Qual é o papel do artista numa cidade jovem (94 anos de emancipação política), e voltada à “cultura do trabalho”? No contexto contemporâneo o capitalismo transforma tudo em mercadoria antes mesmo de estar pronto. E a sociedade se satisfaz com a versão simplória de que tudo é arte.
A Associação Caxiense de Teatro – ACAT – nasceu, em julho de 1989, com o objetivo de desenvolver o teatro e defender os interesses de seus associados.
Sem “escolas” de teatro como surgiram os grupos? Acredito que por não haver formação acadêmica assim como o fato de não existir (ou serem insuficientes na época as), políticas públicas para as manifestações artísticas foi que determinou a auto-organização dos “teatreiros”. A necessidade transformou a cena caxiense.
Em 1997, com a Frente Popular assumindo a administração do município, inicia-se uma nova fase com a criação da Secretaria Municipal da Cultura. Assim o desejo ver o teatro acontecendo em toda a cidade toma uma nova dimensão. Sabíamos que para o teatro crescer e se desenvolver era necessário que mais pessoas se apropriassem da linguagem. Mas como fazer? Aonde fazer? Para quem? Existe tradição? Qual?
Estas são algumas reflexões que norteiam as ações dentro do projeto. O objetivo é: “fazer” teatro nas diversas regiões da cidade. Com poucos recursos em 97, o GentEncena inicia em vários bairros, ações para formar grupos teatrais autônomos e inseridos em suas comunidades. Em 1998, amparado por lei o projeto ganha força e recursos. E agora novas considerações sobre a identidade cultural desses agentes, já que estamos interagindo em novos contextos. Precisamos então respeitar suas particularidades.

O sociólogo Stuart Hall afirma que: A identidade preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior” - entre o mundo pessoal e o mundo público de que projetamos a “nós próprios” nessas identidades culturais, ao mesmo tempo em que internalizamos seus significados e valores, tornado-a “parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural. A identidade então costura (ou, para uma metáfora médica, “sutura”) o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e pré-dizíveis (HALL 1992, p 11 - 12).
E nas palavras de Samantha de Oliveira: É importante abrir reflexões sobre o papel do artista, uma vez que este poderia ocupar o lugar de um sujeito que exercita e desenvolve ao máximo seu senso crítico e talvez um dos exercícios seja justamente “estar na busca do novo”, buscá-lo faz parte da não instalação na hegemonia. Fazer a crítica é também uma forma e, que por sua vez, torna-se uma possibilidade de resistir ao capitalismo. Esses são exercícios difíceis, pertencentes a uma árdua tarefa que cabe aos artistas e intelectuais, ou ainda melhor a todo cidadão responsável. Afinal não se pode pensar que o estado caótico no qual a sociedade está imersa, construiu-se e organizou-se do acaso.
Há muitas maneiras de agrupar-se para fazer teatro. Agimos para a formação do Grupo. Queremos um espaço onde as pessoas além do espetáculo possam construir o humano. Criando um espaço não só para incorporar técnicas e nem só para criar espetáculos. Mas um espaço onde a formação do ator de diversas formas é o lugar de liberdade para o aprendizado.
Teatro de grupo é estabilidade de elenco, é treinamento autoral, é a montagem do espetáculo, mas é também um lugar de confronto e o desenvolvimento de ética e estética. Este é o GentEncena! É este o teatro em que acreditamos! É por ele que lutamos!

Jorge Valmini - Coordenador

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