A APOSENTADORIA DO ATOR
Tenho me preparado para escrever este texto nos últimos meses. O curioso é observar que no momento de redigi-lo os franceses protestam violentamente contra a reforma previdenciária que altera de 60 para 62 a idade para aposentar-se. A minha aposentadoria enquanto ator será em dezembro de 2030. Precisamente no solstício de verão. Estarei na ocasião com mais de 64 anos de idade. Não sou francês e o foco aqui não são as perdas dos direitos sociais e trabalhistas. Igual a qualquer trabalhador o objetivo é encerrar o ciclo da atividade.
Comecei o oficio de ator de teatro em março de 1983. Nesta ocasião fazendo teatro amador formulei a pergunta que me acompanhou sem reposta por duas décadas. Na literatura e teoria estava acompanhado de Augusto Boal e Bertolt Brecht. A pergunta: Qual é a forma? Era feita e testada a cada nova montagem. Em cada ensaio. Em cada exercício. Em todas as leituras e discussões. Muitos erros poucos acertos. Em 1992, já profissionalizado há dois anos, estava em crise! Só eu me perguntava? Só eu era louco? Só eu queria mais? Claro que não! Exagero da minha parte. Agora o tormento era maior. Lendo o Teatro e seu duplo de A. Artaud e Em busca de um teatro pobre de J. Grotowisk descobri a crueldade do ator santo.
Quanto mais aprendia na teoria, menos resultava na prática. Não me agradava os resultados parciais. Enquanto meus colegas divertiam-se eu angustiava. O alivio veio da viagem ao Paraná para assistir ao Festival Internacional de Londrina. A presença de mestres como Kazuo Ohno e Antunes Filho ou as apresentações de grupos como Odin Teatret da Dinamarca ou o Studio Five of Moscow não trouxeram a resposta. Em verdade sugiram mais perguntas, só que com elas vieram novo animo, nova energia. A angústia cede lugar a muito trabalho, novos projetos. Personagem sujeito? Ou personagem objeto? Dramaturgia Aristotélica ou Brechtiniana? Alguns acertos. Mais erros.
Em 2003, vinte anos depois, com a ajuda da filosofia, com Gerd Bornheim finalmente a reposta. Nem sujeito nem objeto. Não o mundo ou eu. E sim eu e o mundo. O que procurava G. Bornheim define como “vasos comunicantes”. As “vias” entre o eu o e o objeto. Entendido o caminho, falta caminhar. Batizei esta jornada de A ARQUITETURA DO MOVIMENTO. Será o movimento da caminhada. Será o movimento dos diferentes elementos que compõem a carpintaria teatral. Texto, cenário, figurino, texturas, sons, cores, intenções, mas principalmente do “corpo em cena”. O ator enquanto matéria e energia.
Diferentes montagens vão “pavimentar” a estrada da aposentadoria. Teatro de Bonecos, de Sombras e Objetos, de Rua, de Sala, de Arena. Instalação e performance.
A despedida da cena e da platéia será com o espetáculo: DISCÍPULO. O texto e a direção de minha autoria. Vamos experimentar “espectadores” e “ator” uma relação de 13 horas de duração. É a simbologia dos números. Uma apresentação por semana durante 13 semanas. Um ator e 12 espectadores. Se todos os ingressos forem vendidos vão ser 156 pessoas testemunhando o evento. Metade homens a outra mulheres. Em cada apresentação uma “Eva” e um “Adão” serão escolhidos para participarem do último ato da peça. Teremos vivido então uma experiência teatral num giro de 24 horas. Um dia. A criação. A invenção de um dia. De cada detalhe desse dia. O ato de viver um dia conscientemente planejado. Assim poderei saber se os “vasos comunicantes” funcionam e o ator Jorge Valmini estará aposentado.
Tenho me preparado para escrever este texto nos últimos meses. O curioso é observar que no momento de redigi-lo os franceses protestam violentamente contra a reforma previdenciária que altera de 60 para 62 a idade para aposentar-se. A minha aposentadoria enquanto ator será em dezembro de 2030. Precisamente no solstício de verão. Estarei na ocasião com mais de 64 anos de idade. Não sou francês e o foco aqui não são as perdas dos direitos sociais e trabalhistas. Igual a qualquer trabalhador o objetivo é encerrar o ciclo da atividade.
Comecei o oficio de ator de teatro em março de 1983. Nesta ocasião fazendo teatro amador formulei a pergunta que me acompanhou sem reposta por duas décadas. Na literatura e teoria estava acompanhado de Augusto Boal e Bertolt Brecht. A pergunta: Qual é a forma? Era feita e testada a cada nova montagem. Em cada ensaio. Em cada exercício. Em todas as leituras e discussões. Muitos erros poucos acertos. Em 1992, já profissionalizado há dois anos, estava em crise! Só eu me perguntava? Só eu era louco? Só eu queria mais? Claro que não! Exagero da minha parte. Agora o tormento era maior. Lendo o Teatro e seu duplo de A. Artaud e Em busca de um teatro pobre de J. Grotowisk descobri a crueldade do ator santo.
Quanto mais aprendia na teoria, menos resultava na prática. Não me agradava os resultados parciais. Enquanto meus colegas divertiam-se eu angustiava. O alivio veio da viagem ao Paraná para assistir ao Festival Internacional de Londrina. A presença de mestres como Kazuo Ohno e Antunes Filho ou as apresentações de grupos como Odin Teatret da Dinamarca ou o Studio Five of Moscow não trouxeram a resposta. Em verdade sugiram mais perguntas, só que com elas vieram novo animo, nova energia. A angústia cede lugar a muito trabalho, novos projetos. Personagem sujeito? Ou personagem objeto? Dramaturgia Aristotélica ou Brechtiniana? Alguns acertos. Mais erros.
Em 2003, vinte anos depois, com a ajuda da filosofia, com Gerd Bornheim finalmente a reposta. Nem sujeito nem objeto. Não o mundo ou eu. E sim eu e o mundo. O que procurava G. Bornheim define como “vasos comunicantes”. As “vias” entre o eu o e o objeto. Entendido o caminho, falta caminhar. Batizei esta jornada de A ARQUITETURA DO MOVIMENTO. Será o movimento da caminhada. Será o movimento dos diferentes elementos que compõem a carpintaria teatral. Texto, cenário, figurino, texturas, sons, cores, intenções, mas principalmente do “corpo em cena”. O ator enquanto matéria e energia.
Diferentes montagens vão “pavimentar” a estrada da aposentadoria. Teatro de Bonecos, de Sombras e Objetos, de Rua, de Sala, de Arena. Instalação e performance.
A despedida da cena e da platéia será com o espetáculo: DISCÍPULO. O texto e a direção de minha autoria. Vamos experimentar “espectadores” e “ator” uma relação de 13 horas de duração. É a simbologia dos números. Uma apresentação por semana durante 13 semanas. Um ator e 12 espectadores. Se todos os ingressos forem vendidos vão ser 156 pessoas testemunhando o evento. Metade homens a outra mulheres. Em cada apresentação uma “Eva” e um “Adão” serão escolhidos para participarem do último ato da peça. Teremos vivido então uma experiência teatral num giro de 24 horas. Um dia. A criação. A invenção de um dia. De cada detalhe desse dia. O ato de viver um dia conscientemente planejado. Assim poderei saber se os “vasos comunicantes” funcionam e o ator Jorge Valmini estará aposentado.
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