sexta-feira, 23 de abril de 2010
Pedagogia Griô
NAÇÃO GRIÔ
Em 2008 fui convidado pela ONG Agosto 17, para participar de um projeto cultural, promovido pelo do Ministério da Cultura. Fui informado que o projeto estava embasado na oralidade, e que éramos três pessoas na ação (José Luis, Márcia Santuário e eu). Iniciamos nossa atuação em julho de 2009 na Escola Municipal de Ensino Fundamental Fermino Ferronatto. A partir deste momento me tornei oficialmente um Griô de tradição oral.
“Mas, e griô, o que é?”
Com a palavra Lílian Pacheco – A pedagogia griô
“O Griô é um caminhante, cantador, poeta, contador de histórias, genealogista, mediador político, um “diele”, que na língua bamanan do Mali, noroeste da África, significa “sangue que circula”. É um educador popular que aprende, ensina e se torna a memória viva da tradição oral. Ele é o sangue que faz circular os saberes e as histórias, as lutas e glórias de seu povo, dando vida à rede de transmissão oral de uma região e de um país. A palavra abrasileirada griô vem de griot em francês, que traduz a palavra Dieli na língua bamanan. É um conceito proposto pelo Grãos de Luz e Griô que vem complementar o conceito de Mestres dos Saberes tão utilizado no Brasil. O conceito de mestre nos remete ao sábio, ao curador, ao iniciador das ciências da vida, das artes populares e dos ofícios artesanais, é diferente do Griô.”
“E Griô no Brasil? O que é? Atravessando o atlântico negro, voltando para a Mãe África, na região em que o Brasil se encaixa como um jogo de quebra cabeça do pangea, a gente se reencontra na história e no encanto da rede de transmissão oral.”
“A vivência da pedagogia griô é afetiva e cultural e facilita o dialogo entre as idades, entre a escola e a comunidade, entre grupos étnico-culturais, interagindo saberes ancestrais de tradição oral e as ciências formais para a elaboração do conhecimento e de projetos de vida que tenham como foco o fortalecimento da identidade e celebração da vida. Nessa pedagogia, inspirada na tradição oral dos griôs do Mali na África e dos griôs e mestres do Brasil, propõe-se a criação do lugar do griô aprendiz na comunidade.”
“Assim como o Velho Griô, todo griô aprendiz aprende com as diversas tradições orais do Brasil e reinventa ou reencontra o seu arquétipo, aquele que é a melhor expressão de si mesmo e de sua sabedoria ancestral que é reflexo de sua caminhada. Por mais que ele já saiba, por mais que tenha aprendido com griôs e mestres do Brasil, ele guarda e compartilha com humildade sua sabedoria com o titulo de griô aprendiz.”
“A Pedagogia Griô propõe o ritual de vínculo e aprendizagem e tem como referenciais teóricos e metodológicos a educação biocêntrica de Ruth Cavalcante e Rolando Toro, a educação dialógica de Paulo Freire, a educação para relações étnico-raciais positivas de Vanda Machado, a arte educação comunitária de Carlos Petrovich, a educação que marca o corpo, de Fátima Freire e a pedagogia que foi construída nos terreiros de candomblé, nas capoeiras, nos torés, nos sambas de roda, nos reisados, nos cantos do trabalho, nas festas populares, nos gêneros literários dos cordelistas e repentistas, na ciência das parteiras, na habilidade das rendeiras, na antevisão dos pais e mães de santo, na medicina dos curadores, erveiras, benzedeiras e xamãs, na biblioteca viva dos contadores de histórias, e em todas as artes integradas aos mitos e às ciências da cultura oral.”
“Caminhar, colocar os pés no chão da realidade, viver e conhecer profundamente as comunidades com quem estamos criando educação. É necessário inverter a estratégia epistemológica (epistemologia é um estudo de como se dá o conhecimento). Então, temos que nos perguntar diante da ciência como ela acontece. Onde está a minha vida, a minha felicidade, a minha identidade (que inclui a alteridade, ancestralidade, a totalidade)? Todo mundo se perguntou durante muito tempo na escola algo parecido: “Para que eu estou aprendendo isso”? Essa pergunta nasce da inquietação de sentir que sua própria história e projeto de vida não estão no centro do conhecimento. A pedagogia griô propõe trazer todas estas categorias teóricas para o centro.”
“É preciso rever o conceito de identidade na educação. O sistema biodança e a educação biocêntrica apontam um caminho para esse conceito, um caminho que integra o si mesmo à alteridade (ao outro), à corporeidade e à totalidade, um caminho que organiza nossas linhas de vivência, crescendo em espiral, na busca do sentido pleno da vida, o princípio biocêntrico. A pedagogia Griô se inspira nesse caminho e propõe um conceito de identidade que tem como centro a história de vida pulsando entre a ancestralidade e a consciência de si, crescendo em espiral e formando as categorias importantes das tradições orais.”
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